Polícia lamenta que se esteja

20 Dezembro 2024
Polícia lamenta que se esteja

"Este género de operações são feitas não só no Martim Moniz, não só em Lisboa, mas pelo país inteiro". A garantia é dada não só por Paulo Macedo, presidente do SPP-PSP, como pelo comissário Bruno Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia. A operação realizada pela PSP na quinta-feira está a ser considerada “inaceitável” por vários partidos políticos, que querem ouvir a ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, e o diretor nacional da polícia, Luís Carrilho, no Parlamento, mas os sindicatos da PSP consideram que a mesma foi "normal" e que só está a gerar celeuma "porque a política está a insurgir-se neste assunto".

"Este género de operações são feitas não só no Martim Moniz, não só em Lisboa, mas pelo país inteiro. O objetivo destas operações tem evidentemente a ver com a criminalidade e com o que as pessoas no dia a dia acabam por transmitir neste caso à PSP", diz à CNN Portugal Paulo Macedo, acrescentando que "está-se a criar um problema numa coisa que é simples". 

Segundo o presidente do SPP-PSP, "é normal que num sítio como o Martim Moniz - em que qualquer pessoa que lá passa percebe que há uma grande densidade de pessoas oriundas de outros países - a polícia faça aí uma operação, uma vez que há muita gente que vem de outros países, e servirá essa operação também para averiguar se essas pessoas estão legais ou não estão legais".

Mas esse não é o único motivo. Paulo Macedo diz que existem relatos de tráfico de droga, posse de droga e outros crimes que fazem com que a polícia tenha de "acompanhar estas situações e dar também seguimento àquilo que lhe é apresentado, para além de todas as normas que existem".

Sobre as imagens que têm sido divulgadas nas redes sociais, de dezenas de pessoas encostadas à parede com os braços ao alto ao longo da Rua do Benformoso, Paulo Macedo - e também Bruno Pereira - garantem que "é normal".

"Acho que isso é um não problema porque nós vemos pessoas em fila nos hospitais. Vemos pessoas em fila para entrar no estádio de futebol. Vemos pessoas a serem revistadas nos aeroportos em fila para entrarem nos aviões", compara o representante sindical, que questionado sobre o facto de as pessoas estarem viradas para a parede explica que "é uma questão da segurança das próprias pessoas e dos polícias". 

"Se nós temos ali dez polícias para cem pessoas, se as pessoas estiverem amontoadas, como é que se controla, por exemplo, uma pessoa que tenha uma arma ou que tenha estupefacientes e o atire para o chão? Se as pessoas não estiverem visíveis - e para estarem visíveis têm de estar no seguimento de algo fixo - estão três ou quatro pessoas ali amontoadas e depois surge ali uma arma proibida no chão. De quem é a arma? As quatro ou cinco pessoas são implicadas", argumenta, insistindo que o cenário "é normal". "Se a operação é ali feita, é normal que se encostem pessoas. Se estivesse lá um português, ou vários, ou se fossem todos portugueses, eram os portugueses que eram encostados."

Explicação corroborada por Bruno Pereira que lembra que os agentes têm de "assegurar que ninguém consegue fugir" e para que não seja dissimulado "algum tipo de objeto ilícito". 

"Parece-me que é algo natural dentro daquilo que é a área em que a operação está. Se eu quiser abordar um determinado veículo, a aproximação geográfica ou tática que eu vou fazer nesse veículo, se for numa rua é uma, se for em duas ou três ruas é outra", justifica, acrescentando que "à parte do impacto visual, do ponto de vista estritamente técnico-posicional e técnico-jurídico, tudo está conforme aquilo que é o normal". 

O presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícias diz ainda que, ao contrário do sugerido, a campanha do Portugal Seguro não está a ser direcionada para os imigrantes e que essa garantia foi dada pela própria ministra da Administração Interna na quinta-feira, onde "o discurso dela foi todo direcionado, todo, para a questão da sinistralidade - que até tem levantado bastante celeuma por força de número de mortos - e isso revela-se como uma preocupação imensa".

"É nesse sentido que tem sido levado a cabo, como ainda anteontem, várias operações direcionadas para a área do direito estradal, daquilo que são infrações mais comuns, que podem muito provavelmente desencadear ou pelo menos aumentar a dimensão de perigo da própria condução, que pode dar em situações trágicas de mortos ou de feridos, e não diria de modo algum que há uma concentração ou um elemento operacional de decisão virada para os imigrantes, é apenas uma de várias", acrescenta.

Bruno Pereira garante que a PSP conduz "prioridades", sejam elas o "aumento de armas, de investigação geral, do trânsito ou de desigualdade". 

"São escolhas, são prioridades. Este é um grande evento e tem a ver com a questão de que são prioridades, o controlo de situações irregulares (de imigrantes) é algo, primeiro, que faz parte do dia a dia, porque se eu estou irregular hoje, também estarei amanhã. E às vezes a deteção de situações de irregularidade em situação nacional pode ser importante até para providenciar a própria regularização (do imigrante), porque as situações podem ser ultrapassadas no ponto de vista da regularização, a pessoa pode não necessariamente ser expulsa ou afastada coercivamente."

Paulo Macedo acrescenta que "não é pela cara que se vai ver se a pessoa tem uma arma ou não, como é óbvio, nem pela nacionalidade".  

Políticos estão a criar "confusão nas pessoas"

Para Paulo Macedo, a celeuma causada à volta da operação policial do Martim Moniz foi criada pela opinião política que está a criar "confusão nas pessoas" e a tentar "aproximar-se de certas comunidades". 

"A nível de Governo, não é desejável, nem deveria acontecer, termos políticos a participar naquilo que é o desenvolvimento normal da atividade policial. Ao Governo cabe dar orientações. Agora, quando temos responsáveis políticos já a insurgirem-se na própria ação policial, isso já é grave. A ação policial rege pela legalidade, não se rege por indicações da área política, porque senão vamos imaginar que os políticos diziam 'a partir de hoje não há mais investigações a políticos', e se calhar a PJ e a PSP não investigavam mais. É um exemplo que seria um extremo e um extremo ridículo. Há regras próprias para isso, têm que dar orientações, mas essas orientações nunca podem depois deixar a confusão nas pessoas de que, por exemplo, esta operação no Martim Moniz foi feita porque houve indicações de algum responsável político. Não pode acontecer. Isso tem de ser uma avaliação interna da PSP, o Diretor Nacional e os comandantes e todas as estruturas da PSP têm de decidir onde se devem fazer as operações, quando, e depois também depende de investigações que são levadas a cabo, que envolvem muitas coisas", defende. 

Também Bruno Pereira lembra que "não deve existir uma interferência do ponto de vista da gestão técnica, ou da gestão técnica e a autonomia técnico-tática junto às polícias, junto às direções e comandos das polícias por parte da tutela política".

"A tutela política pode e vai definir, quando quer, quando achar que é conveniente fazê-lo, sobretudo quando as decisões técnicas e táticas não vão ao encontro daquilo que pode ser uma sua prioridade ou visão política, porque é por isso que eles são governantes, foram eleitos. E, portanto, há aqui regras que estão estabelecidas no contexto da democracia. Agora, não devem confundirem-se os papéis. Eu não vou ser ministro ou diretor nacional, e o diretor não vai ousar querer ser ministro."

Já Paulo Macedo reitera que "é importante que a ação política não se imiscua naquilo que deve ser a capacidade e o trabalho policial". "Esse cabe à polícia. E é importante que as pessoas não pensem que a polícia atua de maneira diferente dependendo da pessoa com quem está a interagir ou da zona. Isso não acontece e não tem nada a ver com a nacionalidade das pessoas. Parece-nos também muito mal que alguns partidos políticos possam fazer disto, no sentido de quererem uma maior proximidade a algumas comunidades, por assim dizer. Não podem colocar em causa o profissionalismo dos polícias e a capacidade e a legitimidade que a PSP tem em controlar isso", finaliza.


Fonte: https://cnnportugal.iol.pt/martim-moniz/spp-psp/policia-rejeita-estar-a-ser-instrumentalizada-contra-imigrantes-se-fossem-todos-portugueses-eram-os-portugueses-que-seriam-encostados-a-parede/20241220/67656eb7d34ea1acf2720e8e


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